É
comum se ouvir expressões do tipo “estamos fazendo o resgate disso ou daquilo”, ou “esse resgate faz justiça a aquilo”, ou, ainda, “esse é um resgate histórico”. Essas
frases de efeito, com sentido de vitória sobre um passado que se imaginava
sepultado, objetivam ressuscitar coisas antigas, hábitos, tradições, inventos,
práticas úteis e até inúteis, e estão em todas as áreas: da cultura à economia; da gastronomia à saúde; da
sustentabilidade à produção em escala; da preservação do meio ambiente à sua
destruição, esta, até bem pouco tempo, sobrepondo-se àquela. Todos, enfim, têm
os seus res gates. Alguns, inclusive, os têm inconscientemente. Enfim, o que
estava morto apareceu mais vivo do que nunca. Pois eu também tenho o meu
resgate. Aliás, tenho vários. Mas vou ficar com apenas um: o ovo de galinha.
É
isso mesmo. Aquele alimento do tempo em que se esperava a galinha anunciar,
através do canto, que mais um ovo estava à disposição e em que lugar estava seu
ninho. Também era um tempo em que cada galinha produzia apenas um ovo por dia.
Explico: hoje, com a alimentação que é fornecida a essas aves, com a iluminação
contínua dos aviários -, o homem mudou o metabolismo das galinhas. Com isso,
essas poedeiras, na média, produzem mais de um ovo por dia. Pouca coisa mais, é
verdade.
Não
preciso dizer que, como todo guloso, gosto muito de ovo, de preferência com
aquela gema amarelenta carregada. Frito, cozido ou omelete, tanto faz. De
qualquer jeito, sempre é bom. Melhor ainda se coberto por pimenta preta, moída.
Também sem preferência por qual refeição: pela manhã, ao meio-dia e à noite. Só
que, durante anos, por recomendação médica, fui proibido de consumi-lo. Eu e
milhares de pessoas.
Execrado,
o ovo foi, por décadas, o vilão da saúde humana. O paciente que, no consultório
médico, apresentasse exames laboratoriais com índices elevados de colesterol
(LDL) ou de diabetes, recebia a seguinte sentença: corte em definitivo o ovo. Convenhamos, era um
castigo. Privar-se do ovo, de preferência frito na banha, equivalia a castigo.
Pois
recente descoberta científica acaba de resgatar o ovo. Ele está absolvido.
Ainda bem. É claro que, durante os anos em que me privaram desse alimento,
incidi no pecado da gula, pois, como sabem os cristãos, do pecado só se livra
quem dele se abstém tanto na prática quanto em pensamento. Em suma, o
arrependimento tem de ser material e mental, com o firme desejo de não
reincidir No caso, não ultrapassei a primeira fase.
Pois
esse mesmo alimento, fruto de recentes estudos científicos, foi absolvido.
Deixou de ser um dos vilões da saúde humana para ser um aliado seu. Pesquisas
iniciadas nos anos 90 desmistificaram o preconceito ou estudos anteriores. Com
moderação no consumo do produto, é claro. Para as pessoas com histórico de
doenças cardíacas, por exemplo, a recomendação é de até três ovos por semana.
Já o seu preparo deve obedecer a seguinte ordem: cozido, pochê, omelete. Frito,
nem pensar. Pelo menos – quem duvida? - até nova pesquisa.
Para
justificar o comentário relativo ao resgate ao ovo, mas, ao mesmo tempo, sem
incorrer no delito do exercício ilegal da profissão, invoco as descobertas
feitas por nutricionistas da Universidade Estadual do Kansas, nos Estados
Unidos. Descobriram eles que o lipídio encontrado em ovos, comprovadamente
diminui a absorção de colesterol no organismo, que se dá por causa da
substância chamada fosfolipídio que impede a chegada de colesterol ao
intestino, além de bloquear o seu acúmulo na corrente sanguínea.
O
ovo carregou a fama (má) de inimigo da saúde. Hoje, depois do leite –
obviamente o leite não “batizado” – , é considerado o alimento mais completo.
Ah,
algumas recomendações: não utilizar ovo rachado; lavar o ovo com água e sabão
antes de usá-lo; cozinhar o ovo por sete minutos de fervura; armazenar os ovos
na geladeira em embalagem plástica com tampa.