quarta-feira, 25 de março de 2015

À BEIRA DO ABISMO

"[...] aquela Amazônia onde se opera agora uma seleção natural de energias, e diante da qual o espírito de Humboldt (naturalista alemão) foi empolgado pela visão de um deslumbrante palco, onde mais cedo ou mais tarde se há de concentrar a civilização do globo”, descrita por Euclides da Cunha em Os Sertões, é contestada na atualidade pela triste realidade da exploração criminosa da floresta, pelo homem. O escritor, naturalista, hidrógrafo, botânico, se vivo, constataria, ainda, que o homem não se convenceu que o meio ambiente não é propriedade sua. Mas, por certo, reafirmaria que o ser humano no Planeta é apenas mais um convivendo com tantos outros, todos com o mesmo direito à vida e à geração de novas vidas.
A Amazônia, que tem 30% da biodiversidade mundial, está sendo dizimada pela ganância de uns e ignorância de outros, e com a conivência do Poder Público. Para o pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a falta de precipitação pluviométrica no Sudeste seria efeito indireto do desflorestamento. Com efeito, de 1970 a 2013, a exploração madeireira e o desmatamento retiraram do bioma 762.979 km² de floresta. Só em agosto e setembro foram devastados 1.626 Km2, um acréscimo de 122% sobre o mesmo período de 2013. Para ele, “a retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo para a atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes nuvens de umidade, responsáveis pelas chuvas, que são transportadas pelos ventos desde a Amazônia até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste, não “seguem viagem”.
Mas não se pense que aqui no Estado é diferente. Um amigo agricultor me contou que seu vizinho aterrou uma fonte d´agua para aumentar alguns metros de lavoura. Questionado, o ganancioso agricultor respondeu: “Na minha propriedade mando eu.” Ora, assim não é. Pelo menos, eticamente. O líquido precioso é de todos. Está, pois, acima do direito de propriedade, mesmo esta sendo protegida pela Constituição. A propósito, assim proclamou a doutrina social da igreja católica antes da promulgação da Carta brasileira de 1988: “O direito à propriedade privada é intrinsecamente inerente à função social” (Encíclina Mater ET Magistra, Papa João XXIII). Ou, pelo mesmo Pontífice e outros: “Em toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social.”
O desespero é pela falta de água em São Paulo. A rigor, falta em toda a região Sudeste. Na região Nordeste, a falta é histórica. No Ceará, Piauí etc a indústria da seca fez gerações de políticos. O problema, para aquelas populações, virou provação de Deus. O país, dados os mananciais que possui, poderia ser exportador de água para o mundo. Mas não. Talvez tenha que importá-la. De Israel, quem sabe. É que nesse país do Oriente Médio a água retirada do mar, depois de dessalinizada, transforma desertos em solos produtivos. Já no país, com água abundante, a escassez ronda nossas vidas.
O Brasil tem a maior reserva de água doce do planeta (12% dos recursos hídricos). No entanto, não basta ter água em abundância; é fundamental cuidá-la, preservá-la, não poluí-la. Estatísticas informam que 40% da água captada, depois de tratada, se perde nos encanamentos precários, e no consumo abusivo. Aliás, se os rios fossem preservados, a água não necessitaria tratamento. Seria consumida em seu estado natural, posto que potável.
O debate sobre a ameaça da falta de água interessa ao mundo. É que a escassez do produto, tanto aqui quanto fora, tem as mesmas causas: aumento populacional, desmatamento, desperdício e alterações climáticas. Estas, por sua vez, têm a ver com a ação irresponsável do homem: desmatamento, poluição ambiental, emissão de gases que provocam efeito estufa. Outro mau exemplo: 15 metros das margens das estradas são faixa de domínio (non aedificandi). Como deveriam estar? Reflorestadas. Como estão? Desertas, abandonadas ou transformadas em lavouras até rente ao acostamento.

Mas não só. Uma nova agressão à saúde humana é praticada em escala crescente. Sem alarde nem indignação, agricultores estão usando SECANTE, o GLIFOSATO conhecido por ROUNDUP, prejudicial ao meio ambiente e ao homem. Pior ainda: para apressarem colheitas e ganharem alguns dias para o novo plantio, produtores o aplicam antes de se completar a maturação de grãos, os quais, contaminados, já estão nas mesas e nos cochos.   

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