quarta-feira, 25 de março de 2015

BARBÁRIE

É o que ocorreu na França.  Antes, porém, de emitir opinião sobre o ato terrorista cometido por dois professantes do Islamismo, em Paris, volto a um passado já distante para dizer que, no curso técnico de contabilidade que fiz (anos 60), na FEMA, a língua estrangeira do currículo escolar era o francês. Mas não fui além do básico, mesmo com todo o empenho do professor da disciplina, o saudoso Fioravante Pedrazzani. Três palavras, no entanto, muito mais pela sua simbologia do que pelo sabor das pronúncias, ainda guardo: Liberté (liberdade), Égualité (igualdade) e Fraternité (fraternidade), lema da Revolução Francesa que levantou o povo contra a Monarquia em face dos pesados impostos que sufocavam a população, especialmente as camadas menos favorecidas, ao mesmo tempo em que, à sombra do Palácio de Versalhes, viviam no luxo (não confundir com luxúria) e na fartura duas castas: a Nobreza e o Clero. A gota d´agua da Revolução Francesa, que culminou com a tomada da Bastilha, símbolo maior do poder absolutista na época, foi a fome em decorrência da escassez de alimentos pela frustração de safras, de um lado, e a indignação dos que pagavam a conta, de outro. Assim, nasceu a Assembleia Constituinte, que aprovou a Declaração dos Direitos Humanos inspirada na declaração norte-americana que defendia a liberdade de expressão em que todos podiam falar, escrever e registrar livremente seus pensamentos, respondendo por eventuais abusos. São princípios eternizados, que plasmam estados democráticos de direito até hoje.
Fiz esse breve retrospecto histórico para dizer que a Revolução de 1789, em seu berço e em seus princípios, foi ultrajada pelo ataque terrorista ao jornal CHARLIE HEBDO e à vida dos seus cartunistas por religiosos fundamentalistas, em nome de Maomé. Em verdade, pelo fanatismo religioso de uns poucos contra a ironia do jornal ao profeta, haja vista que nem Maomé nem o Islamismo alimentam a violência.
Os fatos que culminaram com a morte de chargistas, todos conhecem. Por isso, modestamente, vou enfocar outro ângulo da questão: a paixão que algumas organizações despertam nas pessoas. Elejo nesse cenário duas, embora, a meu pulsar, existam outras com menor vigor: a religiosa e a política partidária. Em ambas, o fanatismo e a intolerância não raro estão presentes, e toda vez que um tema é contaminado por esses ingredientes exacerbados, a razão desaparece. No Brasil, nos assuntos religiosos, temos embates sem radicalismos. Já o mesmo não se pode dizer em questões políticas. Exemplo: em clara inversão de valores, foi a tentativa de transformar bandidos do Mensalão em heróis. Maliciosamente, houve quem hostilizasse o Judiciário que condenou José Dirceu e outros, ignorando, por conveniência partidária, que a decisão do STF fora proferida depois de cumpridos o devido processo legal e a ampla defesa.
A marca do jornal Charlie Hebdo é a ironia a igrejas, regimes políticos, presidentes, ditadores, líderes religiosos etc. Sua sátira se expressa através da charge, a mais inteligente linguagem da comunicação. Diz tudo em poucos traços. No entanto, como essa mídia parisiense mexeu com uma figura, para alguns, sagrada, para os apaixonados seguidores de Maomé a veiculação se constituiu em ofensa satânica a ser eliminada. Portanto, o atentado carrega a marca da intolerância à liberdade de manifestação. Aliás, isso não é novidade. Muita gente já morreu por causa das intolerâncias ideológica e religiosa: com o nazismo de Hitler; com o comunismo de Stálin e Fidel; com a Inquisição da Igreja Católica.

A barbárie de Paris teve dois alvos: um, específico, os cartunistas; outro, genérico, a liberdade de expressão. Contra ambos, o mundo se levantou reafirmando os valores da Revolução Francesa: Liberté, Égualité e Fraternité. Menos mal. Mas, como pregava a extinta UDN inspirada em slogan britânico, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.  

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