quarta-feira, 25 de março de 2015

IMPARCIALIDADE e NEUTRALIDADE

A revista Veja, edição que circulou na véspera do pleito eleitoral recém findo, por conta da matéria que veiculou, referente ao escândalo da Petrobras, comprometendo os senhores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, causou indignação por parte do ex-presidente, da atual presidente e de seus defensores incondicionais. Dos intensos ataques verbais à revista até a depredação do prédio da editora Abril, foi um passo. A bem da verdade, esses vândalos protegidos pelo manto do anonimato, atentaram, mesmo, contra a democracia. A revolta, porém, é porque a capa a revista estampou as fotografias do Lula e da Dilma, obsequiando-os, ainda, com a manchete “Eles Sabiam de Tudo”. Já, nas páginas internas, veiculou o esquema criminoso contra a Petrobras, extraído da confissão do ex-diretor, Paulo Roberto Costa, e do doleiro que operou a lavagem do dinheiro sujo, Alberto Youssef.

A respeito da principal matéria publicada pela revista, é preciso esclarecer algumas dúvidas, intencionais ou inocentes, sobre os limites éticos dos órgãos de imprensa, os quais, para o exame que me proponho, resumo nas expressões IMPARCIALIDADE e ISENÇÃO. A dúvida existe porque alguns veículos de comunicação assumem posições políticas, especialmente em pleitos eleitorais. Mas, afinal, a imprensa pode tomar partido? Pode assumir candidatura? Respondo: pode e não pode. Para emissoras de rádio e de televisão, as restrições existem. Para jornais e revistas, não. Mas por que a restrição para uns, tida, por muitos, como atentatória à liberdade de imprensa, e não para outros? Por uma razão simples: as emissoras de rádio e TV são concessões públicas. Portanto, só podem funcionar dentro das regras previamente estabelecidas pelo poder concedente. No entanto, as mesmas regras não são impostas aos jornais e às revistas. Estes funcionam mediante mera legalização perante a Junta Comercial.

Todavia, antecipar, como a Veja antecipou, a circulação da revista sem uma explicação plausível, leva-me a acreditar que ela o fez pela sua opção política, revelando, ainda que veladamente, apoio à candidatura Aécio Neves. Mas não só ela. A Carta Capital, de igual sorte, abraçou a candidatura Dilma Rousseff. Mas isso é um direito de ambas as revistas. Portanto, mesmo parecendo contraditório tal comportamento, as duas, por suas opções, não perderam a imparcialidade; perderam, ou nunca tiveram, a neutralidade. Porém, estão dentro dos limites éticos dos serviços que prestam. É que jornais e revistas não têm o dever da neutralidade; têm, sim, o dever da imparcialidade. Correto ou não, esse é o quadro.

Ademais, a revista Veja apenas publicou as confissões do doleiro e do ex-diretor mencionados, no bojo das quais estão denúncias que vinculam o Petrolão a Lula e Dilma, quando Youssef e Costa encaminharam à Justiça acordos de delação premiada. E mais. Como parte do benefício que buscam, firmaram compromisso de devolver parte do lucro que obtiveram nos negócios escusos, em prejuízo da estatal - R$ 125 milhões. Ora, forçoso é concluir que se os dois acusados, não tivessem culpa, não teriam motivo para devolver valor algum, muito menos tal cifra. Por outro lado, se as denúncias contra os dois não se confirmarem, eles não terão direito ao benefício do Instituto, nem à devolução do dinheiro. É que na delação a prova da verossimilhança é do delator. Em suma, se mentira houve, os mentirosos seriam Yussef e Costa, cientes, ainda, dos riscos de suas denúncias não se confirmarem. Logo, é lícito presumir que falaram a verdade. Ademais, que presidentes brasileiros são esses dois últimos que nunca souberam o que se passava ao seu redor? 

Por outro lado, resta claro que o PT faz da sua indignação à Veja expediente para desviar a discussão do escândalo na Petrobras. Crucificando a revista, busca um bode expiatório para os malfeitos do seu governo, aliás, apenas mais um. Mas, diante da evidência dos fatos e da radicalização da discussão, mais racionalidade e menos paixão não fariam mal a ninguém. No meio desse tiroteio, uma pergunta que não quer calar: o que é mais grave, a publicação das confissões feitas em Juízo por Costa e Youssef ou o assalto à Petrobras (R$ 12 bilhões + ou -) por quem tinha o dever de por ela zelar?


Por fim, uma previsão: o Petrolão, se sua apuração não for obstaculizada por forças ocultas, às vezes nem tão ocultas, será maior que o Mensalão.

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