Parece consenso que, das eleições de 2014, emergiu um
novo cenário político nacional, assim resumido: a) o Congresso Nacional, a
partir de 2015, será diferente do atual; b) o país está dividido. A reeleição
da Dilma foi assegurada pelo Nordeste e Norte, mais uma ou outra exceção. A
Região Sul impingiu-lhe fragorosa derrota. A Região Sudeste, a exceção do RJ,
também. Essa divisão, se não for contornada, poderá desencadear um processo
separatista entre as regiões a favor e contra o modelo político atual. Já no
Congresso Nacional, a presidente também não terá as mesmas facilidades que teve
no mandato que se finda. No Senado, a oposição será mais combativa. Se é
verdade que o governo vai se livrar de Simon (PMDB) e Taques (PDT), não é menos
verdade que passará a ter contra si vozes mais contundentes: Lasier (PDT),
Serra (PSDB), Jereissatti (PSDB), Caiado (DEM), Romário (PSB), além de outros
com mandato em vigor. O mesmo se pode dizer em relação à Câmara dos Deputados.
O PT elegeu 18 deputados a menos que em 2010, e o bloco de oposição está maior,
e os partidos com representação na Casa passaram de 18 para 28. Em
consequência, também no ponto a chefe do Executivo não terá o mesmo submisso
Legislativo que tudo aprovou e, de quebra, blindou o governo nas denúncias de
corrupção.
Em suma, a presidente, embora reeleita, terá pela
frente: a) um país dividido quase ao meio; b) um Legislativo diferente daquele
dos últimos 12 anos. Então, terá de remontar sua nova base parlamentar, e isso,
inevitavelmente, vai se dar no balcão de negócios. Uma alternativa já testada
será criar novos ministérios, ainda que para isso ultrapassem de 40 (redondos,
40, não, para não ser chamado o ministério Ali Babá). A esse passo, caso seja a
opção, sugiro a criação do Ministério dos Derrotados. Afinal, não é do feitio
do PT abandonar companheiros que, com o resultado das urnas, estarão na rua da
amargura. Ah, eu sei, isso significaria mais despesas. Não importa. Nós,
contribuintes, pelo quando pagamos e pelos serviços que recebemos, somos
masoquistas. Então, um pouco mais de prazer na dor não fará diferença. Ademais,
o “toma lá, dá cá”, não é para o bem do povo?
Mesmo com maioria no Congresso, Dilma enfrentará
turbulência. Sem contar com a recessão econômica em curso, a matéria da revista
Veja (29-10-14), se procedente, poderá desencadear um processo IMPEACHMENT. A presidente
dizer que nada sabia sobre a Petrobras, estratégia que beneficiou o Lula no
Mensalão, de nada valerá. É verdade que eventual pedido de Impeachment
demandaria longo caminho: a) criação de CPI pela Câmara; b) aprovação de
relatório em eventual incriminação por 2/3 da Casa; c) remessa do processo ao
Senado para processamento. Portanto, ainda que viesse a ser apurada culpa da
Dilma, o êxito seria improvável, exceto se surgisse pressão das ruas (reedição
dos caras-pintadas). Ressalto, todavia, que não estou prejulgando a presidente.
Aliás, nesta semana, ela tomou a atitude que estava devendo: determinou a
apuração das denúncias na Petrobras, no que andou bem. Lembro, outrossim, que a
matéria da Veja se assenta em depoimento do Yussef. Se mentiu, o doleiro, uma
vez checadas as informações, perderá o benefício da delação, haja vista que,
neste caso, funciona como inversão do ônus da prova, isto é, se o depoimento
não se confirmar, o benefício é negado. Portanto, assim como não dá para
condenar a Dilma, o Lula e outros no Petrolão, também não dá para dizer que a
revista mentiu.
Por fim, a eleição de governador: embora Tarso seja
intelectualmente superior a Sartori, nas urnas o RS derrotou a prepotência e
premiou a humildade. O Tarso, por sua pregação, pareceu o inventor da roda.
Ora, o Estado há décadas enfrenta séria crise financeira, a qual, neste
governo, só se agravou. Mais que isso, um dado que condena o Tarso tal qual
condenou o Olívio no caso Ford: o governador, quando ministro, criou a Lei do
Piso do Magistério. Com isso, em 2010 se apresentou como o Messias dos
professores. Só se esqueceu do dia seguinte. Como governador, não pagou o piso
e renegou a lei. Importa concluir que a lei nascida sob sua inspiração fora
mero engodo. Logo, entre o Piso do Tarso e a Tumelero do Sartori, o povo
separou o estelionato de um (governador) da ironia do outro (governador
eleito).
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