terça-feira, 12 de janeiro de 2016

LOUVADO SEJA

Faz poucos dias, neste espaço, saudei o acendimento de uma luz na reunião do G-7, realizada na Alemanha, quando os sete países mais ricos do mundo trataram do controle da emissão de gases de efeito estufa. Destaquei, porém, não entender, ante a premente ameaça à humanidade em face das agressões ao meio ambiente, por que do estabelecimento, pelo grupo, da meta até o ano de 2050 para a redução de poluentes em até 70%. Quer dizer, por que mais 35 anos e por que não 100%. Ocorre que o Planeta agoniza. Logo, não há mais tempo a esperar. Destaquei, por fim, que no Brasil avançam o desmatamento e o uso de agrotóxicos, comprometendo a vida de todos. Agora, nova discussão sobre o futuro do Planeta está marcada. Será em dezembro próximo, em Paris, quando da realização da 21ª Conferência das Partes da ONU Sobre Mudanças Climáticas. Almeja-se que da França saiam decisões para além da retórica.  
É que o clima é de preocupação. Projetos sustentáveis para o setor existem, mas não saem do papel. O Protocolo de Kyoto, por exemplo, assinado em 1998, sendo o Brasil  um dos signatários, não impediu que as emissões de gases crescessem 16% entre 2005 e 2012. No entanto, agora, salvo ingenuidade minha, há um fato novo: a Encíclica Laudato Si (Louvado Seja) editada pelo papa Francisco. O Sumo Pontífice, nas pegadas de Bento XIV (Ubi Primum), Leão XIII (Rerum Novarum), João XXII (Pacem in Terra) etc, clama pela união entre a fé cristã e o ambientalismo. O texto, dada a credibilidade do seu autor, é um manifesto de caráter histórico.
A Encíclica é mesmo instigante. O Papa, com sua aguçada sensibilidade, chama à responsabilidade religiosos e ateus. Afirma, com propriedade, que o problema do meio ambiente não é dos outros, mas de todos. Também indaga qual mundo queremos. A resposta ele mesmo a dá ao censurar o homem, lobo do próprio homem, ao colocar o interesse econômico em patamar superior ao da vida. Nem Marx, que pregou o materialismo como modelo de resolução social, foi tão incisivo. É que a lógica do Papa é a vida descolada de bens materiais. Já a lógica do ser econômico é o lucro, não raro, a qualquer custo.
  O Papa, afora o alerta à adoção do ?deus consumismo?, propõe coisas simples: economia de água e de energia elétrica; substituição dos combustíveis fósseis; eliminação dos produtos destinados ao aumento da produtividade, prejudiciais à saúde. A propósito, o Brasil, parte integrante do Planeta, nos últimos 10 anos, em nome da produtividade maior de produtos primários, aumentou em 157% o consumo de agrotóxicos, envenenando, em consequência, diretamente os alimentos que no dia seguinte às colheitas estarão na nossa mesa ou no cocho dos animais. Não por acaso, os índices de cânceres aumentam a cada ano, com incidência maior nas regiões de produção agrícola intensiva.
A Encíclica Laudato Si é dirigida a todos que, na hierarquia de valores, tem a vida em andar superior. Logo, à humanidade, indistintamente. Como frisa o Pontífice: ?o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio da humanidade e responsabilidade de todos?. Em suma, o papa Francisco abraçou o meio ambiente. Resta-nos abraçar Sua Santidade.

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