Lembrar que Lula nasceu e se criou na
pobreza, é homenagear alguém que, apesar dessas adversidades, se sobressaiu.
Mas o passado de privações não é salvo-conduto para desvios de conduta. Uma
coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Lula, pelo seu passado, foi
merecedor de muitos votos, inclusive de pessoas à minha volta. Eu, porém, não
votei nele. Não pelos motivos ora revelados, mas porque o achava arrogante e
superficial. Entretanto, quando prestes a chegar à presidência da República,
para pessoas que, como eu, temiam o País em mãos despreparadas, dizia: o Brasil
perderá em ações administrativas, mas ganhará em moralização.
Pois foi no ponto realçado por mim
onde mais me enganei. Só para lembrar, os principais alvos de Lula quando
candidato, sintetizados em “nós somos diferentes”, eram: 1) os desmandos
administrativos; 2) os privilégios, em especial de bancos e empreiteiras; 3) os
corruptos de colarinho branco impunes. No entanto, uma vez no poder o que se
viu foi o fracasso ético com reflexos econômicos a ponto de mergulhar o Brasil
em crise sem precedente. O que era “diferente”, no poder mostrou-se “igual”.
Na 1ª eleição para presidente da
República após a redemocratização do País, eu presidia o diretório local do
PDS. O então meu partido (hoje, não tenho) lançou Maluf candidato. Não segui a
orientação do partido por razão ética: Maluf era corrupto. Por isso, abri
dissidência em favor de Collor. Hoje, não me arrependo da dissidência, mas da
opção na dissidência. Collor e Maluf são corruptos. Lula, também (já condenado).
Admitindo, por amor à argumentação,
que: 1) o Triplex do Guarujá não é do Lula; 2) o sítio de Atibaia não é do
Lula; 3) as acusações da PF e do MPF contra Lula e seus filhos são falsas -
ainda assim o patrimônio condena o “mais honesto”. Lula, da data em que assumiu
a presidência até ser pego pela Lava-Jato, teve seu patrimônio aumentado em 27
vezes. Tem declarados R$ 11.700.000,00 - valor incompatível com seus ganhos em
15 anos. Afinal, como ex-presidente, ao contrário do que têm os ex-governadores
estaduais, não tem, sequer, pensão pelo mandato presidencial.
Lula justifica seu patrimônio com
ganhos auferidos com palestras. De fato, de 2011 a 2015 foram 72 a R$
375.000,00 cada uma, totalizando R$ 27.000.000,00, pagas por Odebrecht, Camargo
Corrêa, Queiroz Galvão, UTC, Andrade Gutierrez e OAS, empresas que, flagradas
pela Lava-Jato, confessaram ser o caso lavagem de dinheiro.
Por outro lado, como tem sido
intensamente noticiado nos últimos dias, mais de 25 mil pessoas dos três
poderes recebem auxílio-moradia. Um absurdo. Entre elas, juízes da Lava-Jato.
Embora legal, questiona-se sua moralidade. Os mais exaltados contra o
auxílio-moradia pago a Moro e Bretas, verdade seja dita, usam a ética como pano
de fundo para questionarem a Lava-Jato. Isso, todavia, não macula as decisões
desses Juízes. Quase 100% das suas decisões são confirmadas em 2º grau.
Embora os argumentos a favor, acho que
Moro e Bretas deveriam abrir mão do auxílio. Ninguém quer que os brilhantes
juízes da Lava-Jato sejam heróis, mas, recebendo ajuda de duvidosa moralidade,
passam a imagem de oportunistas. Juiz é igual à mulher do César: “não basta ser honesto, deve parecer honesto.”
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